Ela sentia uma bondade extremamente dolorosa. Sim, era isso. Doía na alma. E ela não sabia bem o que fazer. Uma doce brisa percorre seus cabelos e um choro silencioso aproxima-se devagar.
O que ela estava sentindo caberia nos seus dias? Como olhar com outros olhos para o mundo?
Naquela noite não conseguiu dormir. As perguntas eram muitas e as respostas simplesmente não existiam.
Um calafrio percorreu seu corpo. Seria somente bondade?
Uma vontade intensa e estranha de "dar colo".
Com o coração apertado e um pouco de espanto, adormeceu. Um sono leve e interrompido várias vezes durante a noite.
Acordou com uma sensação de vazio. Teria sido somente piedade e nada mais? Era preciso ir além das palavras, dos olhares, dos sentidos...
(Lia Iksonaj)
segunda-feira, 26 de março de 2007
sexta-feira, 23 de março de 2007
Fragilidade
Somos tão frágeis que, se pararmos para pensar somos quase um sopro. Basta um estalar de dedos de Deus, e deixamos de existir. Sinto-me fragilizada com o simples pensamento de que posso perder alguém que amo. Perder no sentido de deixar de existir. Às vezes gostaria de sofrer no lugar das pessoas que amo, para poupá-las... Mas não posso. Então, farei com que elas sofram menos, estando por perto e dando amor... tentando fazer com que tanta fragilidade tenha uma certa força, e possa transcender para a vida!
(Lia Iksonaj)
(Lia Iksonaj)
quinta-feira, 22 de março de 2007
O Vestido Branco
Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já me disseram, me acham perigosa.
Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou.
Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
(Clarice Lispector – 1968)
Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou.
Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
(Clarice Lispector – 1968)
quarta-feira, 21 de março de 2007
Sangue em Flor
Um homem jamais entenderá a alma de uma mulher. Como poderia ver dentro de seus olhos, que enquanto conversam sobre diversos assuntos, ela jorra em sangue vivo?
Foi assim naquele dia. Ela acordou sangrando muito e se sentiu mais mulher do que de costume.
Parecia estar tudo docemente planejado no seu íntimo, e ela viu tudo se concretizando aos poucos.
No fundo, ela já intuía o que iria acontecer e, de súbito uma sensação de cumplicidade com sua própria intuição a preencheu naquele momento, era um doce pretexto.
Como poderia definir o que sentiu e o que sucedeu nas próximas horas? Com a alma aberta e o doce frescor abstrato nos olhares...sangue em flor...
(Lia Iksonaj)
Foi assim naquele dia. Ela acordou sangrando muito e se sentiu mais mulher do que de costume.
Parecia estar tudo docemente planejado no seu íntimo, e ela viu tudo se concretizando aos poucos.
No fundo, ela já intuía o que iria acontecer e, de súbito uma sensação de cumplicidade com sua própria intuição a preencheu naquele momento, era um doce pretexto.
Como poderia definir o que sentiu e o que sucedeu nas próximas horas? Com a alma aberta e o doce frescor abstrato nos olhares...sangue em flor...
(Lia Iksonaj)
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