quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Abraço

Ele: estou meio estranho hoje... ando meio sem saber para onde ir...

Ela: somos dois, rs. não vejo a hora de começar aquele novo trabalho. aí vou me ocupar completamente por 18 dias e não terei tempo de pensar tanto em tantas coisas...

Ele: não sei... às vezes preciso ficar só, mas não só em casa... só no mato, talvez... agora preciso de um abraço... ou então fazer isto, me ocupar para não pensar demais, só que às vezes paro e penso se isto não é uma fuga.

Ela: talvez seja.

Ele: se eu penso, e algo me incomoda, essa coisa poderia me incomodar tanto até que eu tome uma atitude, e se eu simplesmente esqueço, essa oportunidade passa.

Ela: a solidão me deprime muito.

Ele: a mim também.

Ela: o ideal é tomar a atitude. a frustração de uma oportunidade perdida é pior, acho.

Ele: é verdade... sempre é... o problema é quando já se está nessa fase, de oportunidade perdida. é preciso fazer alguma coisa, ou ir atrás do impossível, ou ir atrás de outro caminho.

Ela: eu acho que sempre é tempo de tentar... o pior é ficar na dúvida. a dúvida também consome muito. se não tivermos mais dúvidas, nos entregaremos ou iremos em busca de outro caminho.
o problema são as conseqüências, sempre seremos alvo delas, que podem ser boas ou ruins.

Ele: sim. tudo é conseqüência. agir causa conseqüências. não agir também, mas as conseqüências de quando se age são mais fáceis de aceitar. as outras são resultados de eventos que não temos controle, porque preferimos não assumi-lo.

Ela: sim. é mais fácil arcar com as conseqüências de algo que fizemos de fato porque queríamos ou desejávamos...

Ele: sim.

Ela: se o caso for sofrer, não deixaremos de sofrer, mas estaremos conscientes de que fizemos algo.
é difícil também... acho que estou passando por isso agora...rs

Ele: sim. e as soluções que eu queria para todos os meus problemas parecem ser as mais difíceis.

Ela: talvez precise rever estas soluções ou batalhar por elas por mais difíceis que sejam...
pode ser também uma fase... pode melhorar com a chegada da primavera...rs :-)

Ele: pode ser :-)

Ela: acho que preciso de um abraço agora...

Ele: eu também...


Lia Iksonaj e H.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Primavera

Maria tinha uma pequena flor em seu jardim. Cuidou desde o início com carinho e amor para que ela pudesse tonar-se uma linda flor.
Era apenas um singelo botão quando Maria avistou pela primeira vez José.
Sem explicação sentiu um pequeno frio na espinha.
A partir de então passou a cuidar daquela flor como se fosse José. E algum dia daria à ele como lembrança e para que ele não esquecesse do seu perfume.
Regava todos os dias rigorosamente no mesmo horário. Podava e trocava até mesmo algumas palavras...
Maria e José encontraram-se uma, duas, três... muitas vezes.
Maria se apaixonou por José. Não se lembra exatamente quando tudo começou.
Certo dia levantou-se apressada pois havia perdido a hora de regar a flor e quando chegou ao jardim, deparou-se com uma flor murcha.
Seus olhos ficaram marejados e sentiu uma dor aguda no peito.
José não quer Maria. José pertence ao mundo dos boêmios, dos bichos soltos e notívagos infindáveis.
Maria, sem saber o que fazer, ficou ali olhando para aquela flor caída, murcha, sem forças e alegria, assim como estava seu coração.
Escorreram lágrimas de seus olhos que pingavam de leve sobre as folhagens do jardim e aquela flor que simbolizava a dor da paixão.
Maria ficou inconsolável.
Mas lembrou-se de repente que em breve é primavera, e muitas flores devem chegar, talvez até mais bonitas e alegres do que esta.
Ficou apenas com a saudade que se estende neste fim de inverno.
(Lia Iksonaj)

A acrobata

Luz Marina Acosta era menininha quando descobriu o circo Feruliche.
O circo Feruliche emergiu certa noite, mágico barco de luzes, das profundidades do Lago da Nicarágua. Eram clarins guerreiros as cornetas de papelão dos palhaços e bandeiras altas, os farrapos que ondulavam anunciando a maior festa do mundo.

A lona estava toda cheia de remendos, e também os leões, aposentados leões; mas a lona era um castelo e os leões, os reis da selva. E uma senhora rechonchuda, brilhante de lantejoulas, era a rainha dos céus, balançando nos trapézios a um metro do chão.

Então, Luz Marina deciciu tornar-se acrobata. E saltou de verdade, lá do alto, e em sua primeira acrobacia, aos seis anos de idade, quebrou as costelas.

E assim foi, depois, a vida. Na guerra, longa guerra contra a ditadura de Somonza, e nos amores: sempre voando, sempre quebrando as costelas.
Porque quem entra no circo Feruliche não sai jamais.
(Eduardo Galeano)