Esta noite sonhei que caminhava sobre as nuvens, mas sentia um medo enorme de cair...
despencar lá do alto, e desaguar como chuva forte de verão...
...se quiser, chove na minha horta que faço a colheita com carinho... chove, chove tudo, deságua, inunda, esgota os líquidos, toda a reserva... e seca, resseca, enrruga, encolhe, diminui o tamanho, quase some... e prepara espaço, reserva o reservatório para inundarmos de novo...
porque vai chover, já está chovendo,
inundando as ruas, as vilas, os becos, as casas, os corpos e os corações...
chove, teima em chover, chuva fina, grossa, garoa com neblina, embaralhando o enxergar.
tremem passos sobre poças, enxurradas que encharcam botas, fazem difícil o navegar.
relampejam corpos pelas ruas e o medo afável pelos becos, enquanto chafarizes chovem pra cima molhando o céu.
no sereno mudo das vilas antigas, fincam eternas as marcas no chão, de desejo e segredo dos corações sob o véu.
chove a chuva dos olhos, escorrem pelas pupilas, deslizam pelos cílios, passando pelo rosto e caindo no peito. deságua. encharca. inunda.
chove a chuva que limpa a dor do coração, passando pela pele, adentrando as vísceras, sugando até a última gota se sangue. queima. arde, é profunda...
chove a chuva da alma. viva, eterna, pulsante. Trovões gritam na mente, enquanto a Lua despe-se das nuvens vagarosamente. quem imaginaria...
depois da tempestade, eis que vêm a tal calmaria...
P.P. e D.J.